A revista Veja desta semana trouxe
uma reportagem que trata das alterações do DSM-5 em relação ao DSM-IV,
incluindo, entre outras, questões relacionadas ao diagnóstico do autismo e do
TDAH.
O DSM-5 será publicado no dia 18
de agosto.
Mas... o que é DSM? É a sigla em inglês que significa Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, documento produzido por membros da Associação
Americana de Psiquiatria (APA) e seguido por médicos do mundo todo. Nele, estão
listadas e descritas todas as categorias do que a APA considera como um
distúrbio psiquiátrico.
As alterações realizadas no
documento estão sendo alvo de muitas discussõs, não havendo um consenso entre
os psiquiatras. Existem grupos de profissionais que defendem o novo manual,
pois apresenta maior detalhamento em relação a alguns sintomas e classificações
mais simplificadas, como é o caso do Transtorno do Espectro Autista, e existem
outros grupos que apresentam críticas fortes às mudanças, defendendo que podem
ocorrer falsos diagnósticos.
Um dos críticos, Allen
Frances, que é psiquiatra da Universidade Duke, nos Estados Unidos e foi
presidente da comissão do DSM-IV, atribui a seu manual parte da culpa por uma
"falsa epidemia", como classifica, por exemplo, o aumento da
prevalência de crianças bipolares.
Frances afirma que "Durante
as duas últimas décadas, a psiquiatria infantil já provocou três modismos —
triplicou o transtorno de déficit de atenção, aumentou em mais de 20 vezes o
autismo e aumentou em 40 vezes o transtorno bipolar na infância. Esse campo [a
psiquiatria] deveria se sentir repreendido por esse triste currículo e deveria
empenhar-se agora para educar os profissionais e o público sobre a dificuldade
de diagnosticar as crianças com precisão e sobre os riscos de medicá-las em
excesso. O DSM-5 não deveria adicionar uma nova desordem com o potencial de
resultar em um novo modismo e no uso ainda mais inapropriado de medicamentos em
crianças vulneráveis", escreveu Frances em sua coluna no Huffington Post.
Enquanto lia, fiquei me
perguntando: Será que o
DSM-IV provocou falsas epidemias ou melhorou os critérios diagnósticos?
É exatamente a melhora nos
critérios diagnósticos, contemplando sintomas que antes não tinham
classificação, ou que tinham inúmeras classificações, o que defendem os membros
do grupo responsável pelo DSM-5.
Acredito que o bom senso do
profissional habilitado para o diagnóstico também esteja sendo considerado. A
formação dos psiquiatras deve permitir que os detalhes importantes também sejam
tratados como relevantes.
Confira, a seguir, algumas
mudanças, disponibilizadas no site de Veja:
AUTISMO
Como era: O
transtorno autista, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância
e transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação eram quatro
categorias de diagnóstico separadas.
A mudança: O DSM-5 terá uma nova classificação chamada "transtorno do espectro
autista", que vai abranger essas quatro condições. "O 'transtorno do
espectro autista' reflete um consenso científico de que essas quatro doenças
separadas são, na verdade, uma mesma condição com diferentes níveis de
gravidade dos sintomas", disse a APA (Associação Americana de Psiquiatria)
em comunicado. De acordo com a Associação, o "transtorno do espectro
autista" se caracteriza por "déficits em comunicação e interação
sociais" e "conduta, atividades e interesses restritivos
repetitivos". O manual quer simplificar o diagnóstico de autismo, mas vai
fornecer aos médicos exemplos de pacientes que se enquadram em cada um dos
quatro tipos de condições integradas no transtorno do espectro autista. A
comissão responsável pela nova revisão do DSM-5, porém, estima que essa mudança
poderia excluir 10% dos casos de autismo já diagnosticados. No entanto, a APA
garantiu que o manual vai reforçar que todas as pessoas já diagnosticadas com
autismo ou síndrome de Asperger continuarão com o diagnostico após o DSM-5.
HUMOR INSTÁVEL
Como era: Depois
da publicação do DSM-IV, em 1994, houve um aumento excessivo de diagnósticos de
transtorno bipolar em crianças. Em 15 anos, esse número aumentou em cerca de 40
vezes, o que acabou criando uma "falsa epidemia" de bipolaridade
entre pacientes infantis, segundo Allen Frances, presidente da comissão do
DSM-IV. Muitas crianças que apresentavam humor instável foram diagnosticadas
com a doença e medicadas com antipsicóticos mesmo sem corresponderem aos
critérios para diagnóstico de transtorno bipolar.
A mudança: Os
responsáveis pelo DSM-5 decidiram criar um novo diagnóstico para crianças que
têm problemas em estabilizar o humor, mas que não são bipolares. Foi assim que
surgiu o transtorno disruptivo de desregulação do humor, que inclui jovens de
cinco a 18 anos de idade que apresentarem episódios frequentes (três vezes por
semana e durante um ano ou mais) de irritabilidade e descontrole
comportamental. A criação dessa desordem, porém, não impede que crianças sejam
diagnosticadas como bipolares.
TDAH (TRANSTORNO DO DÉFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE)
Como era: O
DSM-IV descreve 18 sintomas do transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH), sendo que eles estão divididos em dois núcleos: os
relacionados à falta de atenção e os relacionados à
hiperatividade/impulsividade. Para ser diagnosticada com a condição, uma
criança precisava apresentar pelo menos seis sintomas de um dos núcleos — e o
surgimento desses sintomas que causaram algum tipo de dificuldade deveria ter
ocorrido antes dos sete anos de idade.
A mudança: O DSM-5 manterá os 18 sintomas relacionados ao TDAH, mas alterou a
faixa-etária em que eles devem surgir dos sete para os 12 anos de idade — ou
seja, estendeu os anos em que é possível surgir o transtorno. De acordo com a
APA, essa decisão foi baseada em pesquisas que mostraram que não há diferenças
clínicas (gravidade do problema e resposta ao tratamento, por exemplo) entre
crianças diagnosticadas com TDAH antes dos sete ou dos 12 anos. Críticos da
decisão, porém, temem que essa alteração vá aumentar de forma excessiva o
número de adultos diagnosticados com TDAH.